O extremo sul do planeta apresentou de forma absolutamente intrigante sinais claros de recuperação surpreendente da camada de gelo em relação a observações feitas em anos anteriores.
No entanto os prognósticos para o futuro parecem ser ainda incertos. Apesar das esperanças que o acontecimento suscita, mais observações precisam ser analisadas para verificar se as tendências agora observadas permanecem de forma duradoura.
O continente antártico estoca mais da metade de toda a água doce existente na Terra. Juntamente com o pólo norte e as demais geleiras existentes nas diversas cadeias montanhosas, abriga a maior concentração de água doce do mundo.
Esses ambientes e também os oceanos são particularmente sensíveis a oscilações e servem como indicadores de processos que podem ser desfavoráveis para a vida.
Durante décadas, a calota polar sul do nosso mundo, preocupou a humanidade por contribuir sobremaneira para a elevação do nível do mar em função do seu derretimento.
As evidências de perdas relevantes da calota polar sul, principalmente no lado leste, era consistente com o resultado de diversos estudos.
A diminuição das massas de gelo da região Antártica, levou a comunidade científica e as autoridades a ficarem constantemente atentas, buscando entender as causas que poderiam estar provocando tais eventos, não só lá, mas também em outras partes.
As mudanças climáticas de origem antropogênica soaram o alerta como a hipótese mais aceita para o fenômeno do degelo das regiões polares e das geleiras das altas montanhas mundo afora.
Entretanto, um recente estudo publicado no início deste mês de maio de 2025, na Revista científica Sciences China Earth Sciences, indicou que a Camada de Gelo Antártica registrou um acréscimo de massa singular.
O crescimento recorde do gelo na região do polo sul foi anotado entre 2021 e 2023.
Sim, a gigantesca massa de gelo da região antártica voltou a crescer, possivelmente impulsionado por anomalias relacionadas à precipitações incomuns.
A recuperação das condições do gelo no Continente Antártico é notável, principalmente na sua porção oriental, onde antes, pelo menos quatro das mais relevantes bacias glaciais da região, apresentavam sinais de instabilidade e significativos motivos de preocupação.
Os Satélites GRACE e GRACE-FO, oferecem dados que medem variações no campo gravitacional da Terra a fim de monitorar mudanças nas massas de gelo.
Esses dados gravimétricos foram utilizados por cientistas da Universidade de Tongji, China, para mostrar que entre 2002 e 2010, a perda de gelo antártico era moderada, em torno de 73 gigatoneladas por ano.
Entre 2011 e 2020, o problema aumentou, a Antártida perdeu praticamente o dobro de gelo verificado no período anterior, a uma taxa de 142 gigatoneladas por ano. Situação alarmante.
Entretanto uma reviravolta aconteceu entre os anos de 2021 a 2023, quando a camada passou a ganhar anualmete cerca de 108 gigatoneladas de água congelada. Uma inversão histórica!
As regiões de Wilkes Land e Queen Mary Land, na Antártida Oriental, especialmente as bacias glaciais de Totten, Denman, Universidade de Moscou e Baía de Vincennes, na região oriental do continente Antártico apresentaram recuperação importante.
Os ganhos recentes podem estar relacionados a padrões anormais nos índices de precipitação, situação incomum, possivelmente de ordem passageira, resultado de oscilações naturais do clima – advertem os cientistas.
Os dados não necessariamente sugerem uma possível reversão do aquecimento global em curso. Parece que a boa notícia tem os seus contrapontos. Mas é bom acreditar que há uma esperança.
É bom ressaltar que apenas mudanças globais favoráveis poderão ser efetivamente comemoradas em relação à estabilidade do clima no pequeno globo no qual habitamos.
Assim, é extremamente necessário continuar monitorando o comportamento do gelo da região polar sul para verificar se as reversões da perda de gelo persistem, o que indicaria processos reais de recuperação.
Bibliografia
WANG, Wei et al. Spatiotemporal mass change rate analysis from 2002 to 2023 over the Antarctic Ice Sheet and four glacier basins in Wilkes-Queen Mary Land. Springer Nature [S.I]. Londres, Reino Unido, Março de 2025. Disponível em: https://link.springer.com/article/10.1007/s11430-024-1517-1. Acesso em 15/05/2025 às 8:00 h.
Science China Press. Antarctica’s Astonishing Rebound: Ice Sheet Grows for the First Time in Decades. SciTechDaily [S.I]. Encinitas, CA, USA, Abril de 2025. Disponível em: https://scitechdaily.com/antarcticas-astonishing-rebound-ice-sheet-grows-for-the-first-time-in-decades/. Acesso em 15/05/2025 às 8:40 h.
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Imagem da capa – Iceberg – Foto de Francesco Ungaro – pexels.com – Disponível em: https://www.pexels.com/pt-br/foto/papel-de-parede-digital-iceberg-on-body-of-water-464345/