A Leishmaniose e o seu vetor inveterbrado

Os flebotomíneos são insetos da Ordem Díptera. Essa ordem, engloba indivíduos que possuem um par de asas funcionais e um par de alteres ou balancins que são asas vestigiais atrofiadas. As asas possuem nervuras e células importantes na classificação das diversas famílias, gêneros e espécies deste grupo.

Os flebotomíneos, apesar de popularmente, serem chamados de “Mosquito Palha” em algumas regiões, na realidade não são mosquitos. Eles na verdade, compõem uma das seis sub famílias da Família Psychodidae.

A Sub Família Phlebotominae apresenta importância médica e veterinária, por possuir gêneros e espécies que são vetores de vírus, bactérias e protozoários causadores de doenças infecciosas.

No Brasil, a principal doença transmitida por flebotomíneos é a Leishmaniose, que pode ser de dois tipos, a Leishmaniose Visceral e a Leishmaniose tegumentar.

Ambas são doenças infecciosas que podem ser graves cujo, agente etiológico, ou seja, o organismo causador da enfermidade é um protozoário do Gênero Leishmania.

Os felebotomíneos que abrigam o protozoário da Leishmaniose, pertencem ao Gênero Lutzomya e as principais espécies incriminadas pela transmissão da doença são Lu. longipalpis, Lu. migonei, Lu. intermédia e Lu. Whitmani.

Flebotomínio do Gênero Lutzomya , transmissor da Leishmaniose. Foto: Wikipédia – Link para o original na                                                                                        imagem.

A Leishmaniose tegumentar pode se apresentar através das formas cutânea, cutâneo-mucosa, disseminada e difusa, causadas por protistas digenéticos ou seja, que apresentam um ciclo biológico que acontece em dois hospedeiros, um vertebrado e um invertebrado heteroxeno.

As principais espécies de protozoários causadores da Leishmaniose Tegumentar no Brasil são a Leishmania brasilienses, a Leishmania guyanensis e a Leishmania amazonensis que são transmitidos principalmente por flebotomíneos Lutzomya das Espécies migonei, intermédia e whitmani.

A Leishmaniose Visceral é causada por parasitos do complexo Leishmania danovan com três espécies denunciadas, Leishmania danovan, Leishmania infantum e Leishmania chagasi, sendo esta última, a espécie proeminente no continente americano.

No Brasil, os principais transmissores da Leishmaniose Visceral são os flebótomos do Gênero Lutzomya da Espécie longipalpis. Mas podem ocorrer Lutzomya cruzii e Lutzomya evansi.

A contaminação do hospedeiro invertebrado com o protozoário ocorre no momento do repasto em vertebrados silvestres, realizado pelas fêmeas dos flebotomíneos, as únicas que são hematófagas por necessidades biológicas para fins de reprodução.

A hematofagia é um hábito oportunista dos flebotomíneos fêmeas, uma vez que o sangue dos seus hospedeiros é fonte de proteínas e aminoácidos necessários ao desenvolvimento dos seus ovos.

Fora isso, a alimentação dos flebotomíneos tanto fêmeas como machos é baseada em carboidratos a partir do forrageamento em uma substância pegajosa excretada por afídeos (pulgões) fitófagos que contém melezitose e frutomaltose e seus sub produtos obtidos por hidrólise encontrados nos tratos digestivos destes insetos.

O ciclo biológico da Leishmaniose, ocorre nos hospedeiros vertebrados, considerados reservatórios e nos invertebrados considerados vetores.

O Flebótomo, também chamado de “mosquito” Palha. Ao lado formas promastigotas do parasita da Leishmaniose.                                     Foto: pixabay.com por por LJNovaScotia – Link para o original na imagem.

O desenvolvimento do parasito, acontece de maneira que os organismos assumem três formas diferentes, em hospedeiros distintos e em locais específicos em cada um deles.

Nos reservatórios vertebrados, estão presentes as formas amastigotas. Formas promastígotas e paramastígotas são verificadas no trato digestivo do vetor invertebrado.

Após serem ingeridas durante a picada no reservatório vertebrado, as formas amastígotas se transformam em formas promastígotas no estômago dos insetos e depois em formas paramastígotas no intestino, de onde migram para a faringe, se modificando durante o caminho em promastígotas metacíclicas, que são as formas infectantes.

Mas também as promastígotas podem ser tornar paramastígotas na região anterior do estômago, indo depois colonizar o esôfago e a faringe, onde se diferenciam em promastígotas metacíclicas.

A transmisão acontece com a picada do inseto, momento em que as formas infectantes metacíclicas são inoculadas durante a hematofagia.

Os reservatórios silvestres primitivos são as raposas. Mas outros mamíferos já foram encontrados abrigando os parasitos como gambás, tatus, tamanduás, preguiças e primatas não humanos diversos.

A urbanização da Leishmaniose é muto acentuada, por ter o cão como o reservatório natural mais próximo dos grandes aglomerados populacionais humanos. Também o rato doméstico e equinos, participam da preocupante incidência de Leishmaniose em formas capazes de infectar o vetor invertebrado.

As ações antrópicas, ou seja, aquelas realizadas pela espécie humana no planeta, têm provocado dramáticas alterações nos sistemas naturais, causando desequilíbrios ecológicos de todas as ordens.

A natureza pristina, ou seja, equilibrada, possui mecanismos de controle naturais que propiciam a regulação dos fenômenos que nela ocorrem, inclusive a densidade populacional das inúmeras espécies biológicas existentes, estabelecendo uma capacidade de carga determinada pela resistência ambiental.

As atividades humanas, ao romperem e alterarem estes mecanismos, provocam distúrbios que modificam a resistência ambiental, fazendo com que muitos organismos encontrem condições para se reproduzirem de forma exponencial.

Quando isso acontece com organismos patogênicos e seus vetores, os grandes surtos epidemiológicos se manifestam, com enormes prejuízos, tanto a nível de saúde humana e ambiental, como a nível econômico, pois os custos com ações para tratamentos de saúde ou restauração do meio ambiente, são muito maiores do que aqueles que seriam gastos com prevenção, com ações educativas e com conscientização cidadã.

O desmatamento, as mudanças climáticas e outras alterações de origem antropogênica na natureza, fazem com que muitos organismos adquiram hábitos peridomiciliares e domiciliares, passando a habitar mais em contato com os seres humanos.

Os flebotomíneos se desenvolvem bem em solo úmido mas não encharcado, em locais sombreados, com presença de substrato de serrapilheira, composta de folhas e galhos e outros detritos ricos em materiais em decomposição.

Assim, a junção de vários fatores, têm propiciado condições favoráveis para a proliferação de patógenos e seus vetores em grande escala.

No caso dos flebotomíneos e do protozoário da Leishmaniose, o acúmulo de lixo nos grandes aglomerados urbanos, a presença de habitats sombreados e úmidos como quintais e áreas verdes com folhas secas acumuladas, a presença de entulhos, a ocorrência de bueiros cheios de resíduos oriundos de descarte inadequado de lixo e a presença de cães vadios e até equinos, se tornam ambientes que proporcionam o desenvolvimento de micro organismos causadores de doenças e seus insetos transmissores como é o caso dos da Leishmaniose.

O autor: Jefferson Alvarenga é Biólogo, Pós Graduado em Gestão da Saúde Ambiental.

Bibliografia

NEVES, Davi Pereira et al. Parasitologia Humana. 11ª ed. São Paulo. Atheneu, 2005. 494 p.

STORER, TRACI  I. et al. Zoologia Geral. 6ª ed. São Paulo. Companhia Editora Nacional, 2007. 816 p.

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Jefferson Alvarenga

Jefferson Alvarenga é criador e editor do Site Biota do Futuro. Biólogo, Pós Graduado em Gestão da Saúde Ambiental e em Imunologia e Microbiologia. Apaixonado por educação, pesquisa e por divulgação científica.

Como citar este conteúdo: ALVARENGA, Jefferson. A Leishmaniose e o seu vetor inveterbrado. Biota do Futuro. Betim, 29 de maio de 2019. Disponível em: https://www.biotadofuturo.com.br/a-leishmaniose-e-o-seu-vetor-inveterbrado/. Acesso em 04/10/2025 às 10:12 h.

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