Apesar de narrativas do Governo Federal, a verdade é que a crise humanitária e sanitária envolvendo o povo indígena Yanomami prossegue no norte do Brasil.
Os supostos “avanços significativos” propagados pelas autoridades responsáveis pela solução do problema não são verificados na prática.
“Invasores seguem no território indígena” – denunciam lideranças da Hutukara Associação Yanomami. Os garimpos ilegais continuam sendo a grande fonte do problema.
Roças de subsistência são destruídas constantemente, rios continuam sendo contaminados com mercúrio. Desnutrição, doenças, violência e opressão seguem em curso.
Os invasores seguem presentes, principalmente em territórios nos cursos dos rios Catrimani e Uraricoera – afirma Dário Kopenawa, vice-presidente da Hutukara, a associação mais representativa do povo Yanomami.
O Brasil “tem faltado com ações para melhorar a saúde Yanomami”. É o que aponta um dossiê entregue à Comissão Interamericana de Direitos Humanos (CIDH) em setembro de 2025.
O documento foi organizado em conjunto pela Associação Hutukara, Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (APIB), pela Associação das Mulheres Munduruku Wakoborūn e pela Associação Indígena Pariri.
O líder indígena da Hutukara disse que “O governo fala que diminuiu a presença de invasores, mas o garimpo ainda continua. Eles são alvo de operações e voltam” – apontou Dário Kopenawa.
A União não realiza triagem, diagnóstico ou tratamento em larga escala para a contaminação por mercúrio nos indígenas – destacou o dossiê entregue à CIDH.
A CIDH é um órgão autônomo da Organização dos Estados Americanos (OEA) encarregado da promoção e proteção dos direitos humanos no continente americano.
É um assunto de nível Federal pois apenas a União é responsável por trabalhos de assistência e fiscalização na Terra Yanomami.
O uso de mercúrio em excesso pelos garimpeiros provoca a morte dos peixes e a degradação dos rios. O impacto ambiental provocado por atividades ilegais na região é o cerne da crise sanitária na Terra Indígena.
Os exames para avaliar a extensão da contaminação por mercúrio precisam ser feitos em cabelo, sangue ou unhas, e não apenas na água dos rios como normalmente é feito – alerta o dossiê.
A Terra Yanomami é o maior território indígena do Brasil com quase 10 milhões de hectares compreendendo domínios dos estados do Amazonas e Roraima. Segundo o G1, a população é de mais de 33 mil indígenas.
A crise é agravada pelo aumento de casos de malária, infecções respiratórias e infecções parasitárias.
A precariedade do atendimento em saúde e a dificuldade de acesso a tratamentos, deixam o povo yanomami ainda mais vulnerável, principalmente as crianças.
O Distrito Sanitário Especial Indígena Yanomami (Dsei-Y) é inadequado. Falta estrutura. Dário Kopenawa relatou que já “presenciou uma criança morrer por falta de oxigênio e por demora no resgate aéreo”.
Além disso, pistas clandestinas existem há mais de 30 anos e continuam funcionando na reserva indígena. Aviões sobrevoam a região diariamente para abastecer os invasores.
Núcleos de garimpeiros continuam espalhados em diferentes regiões da Terra Yanomami – dizem relatórios elaborados pelas lideranças indígenas.
O documento “Monitoramento da Terra Indígena Yanomami – 1º semestre de 2025” aponta que pontos de garimpo permanecem ativos em Apiaú, Xitei, Waikás, Auaris, Parima, Baixo e Alto Catrimani e Papiu.
Apesar das ações governamentais para coibir o crime exploratório, a atividade garimpeira se reorganiza rapidamente e burla a fiscalização constantemente.
Cerca de 23 hectares de floresta foi desmatada apenas em 2025. Um impacto altamente significativo.
As ações de controle governamental precisam ser permanentes, os financiadores do garimpo ilegal devem ser investigados com rigor e mais profissionais de saúde precisam ser alocados para a reserva – pedem as lideranças yanomami.





