A vida conforme a conhecemos, evoluiu a partir de fenômenos e interações moleculares mais simples até chegar aos processos biológicos mais elaborados e complexos que vemos atualmente no nosso planeta.
Segundo as teorias mais aceitas pelos cientistas, essas transformações ocorreram ao longo de bilhões de anos e continua acontecendo na natureza.
A busca pela compreensão da vida e como ela acontece tem sido um dos principais focos da ciência. E nessa busca os pesquisadores em seus experimentos e observações muitas vezes tentam reproduzir determinados mecanismos em laboratório. Disso resulta enormes e fascinantes descobertas que propiciam grande parte do progresso que desfrutamos na atualidade.
Recentemente, cientistas do Departamento de Microbiologia do Instituto Federal de Tecnologia de Zurique, Suíça, conseguiram reproduzir pela primeira vez em laboratório um fenômeno chamado endossimbiose. O estudo foi publicado na Revista Nature.
A endossimbiose ocorre quando uma célula vive dentro de outra, criando uma relação estreita de interdependência entre os organismos, evento importantíssimo para a evolução da vida em nosso mundo.
A partir de observações das interações que acontecem naturalmente entre um fungo, o Rhizopus microsporus e uma bacéria, a Mycetohabitans rhizoxinica, os pesquisadores buscaram entender como esses relacionamentos se estabelecem e se tornam estáveis e permantentes.
Esses dois organismos, possuem uma relação simbiótica, na qual a bactéria produz uma toxina que ajuda o fungo a infectar plantas de arroz. Essa interação é tão particular que o fungo não consegue se reproduzir sem a bactéria.
Em laboratório, a pesquisa buscou reproduzir os passos cruciais das interações que ocorrem entre os dois organismos a nivel molecular.
O fungo possui uma parece celular muito rígida. Inserir a bactéria dentro das suas células foi um dos principais desafios.
Uma tecnologia chamada FluidFM foi usada e exigiu bastante precisão. A técnica consiste em aplicar uma enorme pressão para forçar a bactéria a entrar na célula fúngica.
O fungo modifica o seu genoma de forma a permitir uma associação com a bactéria. Isso aconteceu nas observações no laboratório. Ambos os organismos se ajustaram, se beneficiando mutuamente, sem nenhum prejuizo para nenhum dos dois. A viabilidade intrínseca dos dois organismos foi confirmada e perdurou.
Uma rápida adaptação aconteceu, mostrando que as células podem sim, interagir umas com as outras, evoluindo para uma vida conjunta harmoniosa, duradoura e proveitosa.
Esse tipo de parceria entre formas de vida diferentes, testado agora pela ciência, pode trazer enormes benefícios, na medida em que essas relações colaborativas possam ser úteis para criar de forma sintética, projetos de interações com funções específicas no interior das células hospedeiras, com avanços que podem ser promissores para a medicina e o meio ambiente.
Há, entretanto, um longo caminho a percorrer ainda. Esse tipo de pesquisa envolve uma enormidade de váriáveis, inclusive éticas.
Novas pesquisas e novas evidências, poderão ensejar outras conquistas, que possam que permitir o desenvolvimento de soluções biológicas até para possiveis tratamentos medicamentosos e também para minimizar impactos ambientais.
A teoria endossimbiótica sugere que mitocôndrias e cloroplastos (organelas presentes em células eucarióticas), originaram-se de bactérias que foram englobadas por células ancestrais e estabeleceram uma relação de parceria estável e mutuamente benéfica de forma permanente.
Bibliografia
GIGER, Gabril H. et al. Inducing novel endosymbioses by implanting bacteria in fungi. Revista Nature [S.I]. USA, Outubro de 2024. Disponível em: https://www.nature.com/articles/s41586-024-08010-x. Acesso em 05/02/2025 às 8:15 h.
Imagem da Capa – Foto de Chokniti Khongchum – pexels.com – Disponível em: https://www.pexels.com/pt-br/foto/pessoa-segurando-frasco-de-laboratorio-2280571/
Imagem do texto – Foto de Edward Jenner- pexels.com – Disponível em: https://www.pexels.com/pt-br/foto/maos-segurando-holding-laboratorio-4031501/